O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks (E. Lockhart)

Título: O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks
Autor: E. Lockhart
Editora: Seguinte
Gênero: Literatura Juvenil/ Sociologia
Páginas: 344
Publicação: 2013
Classificação: ♥ ♥ ♥ ♥ (Muito bom)

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Sinopse:

Aos catorze anos, Frankie Landau-Banks era uma garota comum, um pouco nerd, que frequentava a Alabaster, uma escola tradicional e altamente competitiva. Mas tudo muda durante as férias. Na volta às aulas para o segundo ano, o corpo de Frankie havia se desenvolvido, e ela havia adquirido muito mais atitude. Logo ela chama a atenção de Matthew Livingston, o cara mais popular do colégio, que se torna seu novo namorado e a apresenta ao seu círculo de amigos do último ano. Então Frankie descobre que Matthew faz parte de uma lendária sociedade secreta – a Leal Ordem dos Bassês -, que organiza traquinagens pela escola e não permite que garotas se juntem ao grupo. Mas Frankie não aceitará um “não” como resposta. Esperta, inteligente e calculista, ela dará um jeito de manipular a Leal Ordem e levantará questionamentos sobre gênero e poder, indivíduos e instituições. E ainda tentará descobrir se é possível se apaixonar sem perder a si mesma.

“Brilhante!” — John Green.

“Totalmente incrível.” — Scott Westerfeld.

“Um dos meus livros favoritos do ano. Se você ainda não leu, leia agora.” — Libba Bray.

Eu não esperava tanto desse livro; mas ele acabou por se tornar uma das melhores leituras do ano.

Aos 14 anos, Frankie é só mais uma garota normal da disputada e tradicional Alabaster, leitora voraz, membro ativo do Clube de Debates e, predominantemente, a princesinha da família.

No entanto, tudo muda durante as férias de verão: de menina sem graça ela passa a ser uma adolescente cheia de curvas, dona de uma beleza chamativa e de língua afiada. No primeiro ano do colégio interno, Frankie era somente a irmã mais nova de Zada, uma veterana popular. Agora, no segundo, as mudanças fizeram com que ela fosse notada, e isso fica nítido quando Matthew Livingston, o garoto mais popular do colégio, veterano, do terceiro ano e editor do jornal, fica caidinho por ela. Os dois logo engatam num relacionamento. Frankie começa a fazer parte da turma dos populares e fica encantada com o mundo de Matthew e seus amigos (leais, brincalhões, sinceros…) e toda a camaradagem que os envolvem. A adolescente já não aceita mais o status de princesinha; ela não quer ser tratada como alguém cuja apenas é valorizada pela beleza, não quer ser o tipo de garota que aceita calada ser coadjuvante de sua própria vida.

– Como se você tivesse sido invisível (…). E agora não é mais. – Só porque os meus peitos cresceram? Não pode ser; eles devem olhar para os rostos das meninas de vez em quando. Se não, como é que iam reconhecer as pessoas?

Esse desejo cresce dentro de si quando descobre que o seu namorado, juntamente com os amigos, fazem parte da Leal Ordem dos Bassês: uma sociedade secreta, fundada há mais de cinqüenta anos, que tem como intuito pregar peças lendárias na escola e formar vínculos duradouros. Uma sociedade secreta exclusivamente masculina.

Determinada, calculista e bastante sagaz, Frankie conseguirá manipular a Sociedade Secreta, enquanto arquiteta peças memoráveis com cunho político e moralista, levantando questões sobre gênero, machismo, organização social e padronização dos indivíduos. Bem construída, a personagem consegue mostrar que independentemente de seus cromossomos, sistema reprodutor e seios, ela pode sim ter uma mente tão brilhante quanto – ou além – os dominadores da escola (garotos) e é capaz de fazer qualquer coisa. Se antes ela se contentava em ser invisível, agora ela quer ser vista, aceita e principalmente respeitada não pela sua estética, mas pelos seus ideais e valores.

Eu adorei a personalidade de Frankie e me identifiquei com ela em vários pontos.

Então eu fui um monstro, ela pensou. Mas pelo menos não fui a irmãzinha de alguém, a namorada de alguém, uma aluna qualquer do segundo ano, uma garota qualquer – alguém cuja as opiniões não importavam.

Por outro lado, a autora não deixa de mostrar que tudo tem consequências. É claro que precisamos contestar certos conceitos patriarcais e antiquados e lutar pelo que achamos moralmente correto. Mas nesse caminho muitas vezes acabamos cometendo atos politicamente incorretos, mesmo que as intenções sejam válidas.

Aqui no Recife, por exemplo, há várias pichações com os dizeres “Fora Temer!” e  “Meu corpo, minhas regras!”, ambos defendendo causas importantes, mas ainda se considera vandalismo.

O livro é narrado em terceira pessoa, onde logo de início o locutor dá a entender que Frankie fez algo de errado, mas que há muita coisa por trás disso. Entre traquinagens, romance, amadurecimento juvenil e reflexões, o leitor embarca numa história que, ao mesmo tempo que encanta, também surpreende pelo rumo que toma. Numa escrita envolvente e deliberadamente misteriosa, E. Lockhart apresenta uma obra juvenil, mas que foge do clichê: mocinhas confusas, indefesas e triângulos amorosos são inexistentes. Sem falar na edição maravilhosa da Editora Seguinte, repleta de simbolismos e detalhes (os bassês, sim, os cachorrinhos, no início dos capítulos ficaram uma fofura!).

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Quotes ❤

“Roupas caras e posição social não tinham muito efeito em Frankie. Mas era o dinheiro e a popularidade que tornavam a vida de Matthew, Dean, Alfa e Callum extremamente fácil. Eles não precisavam impressionar ninguém e, portanto, eram notavelmente livres de arrogância, ansiedade e comportamentos aspiracionais cansativos, como competir por notas ou ficar julgando as roupas uns dos outros. Eles não tinham medo de burlar as regras, pois as consequências raramente se aplicavam a eles. Eles eram livres. E eram livres. E eram tolos. Mas estavam seguros.” – Página 105.

“Eis aqui as aventuras dos Bassês desde o começo da Leal Ordem, transcritas  para serem usadas pelas gerações futuras. Deixe o Histórico ser seu guia, ó Bassês do futuro!

Nós, abaixo assinados, nos comprometemos formalmente a cometer atos de desonra, ridículo e anarquia, reservando a possibilidade de também cometer atos de indecência e ilegalidade quando a ocasião pedir.” – Página 215.

“É melhor ficar sozinha, ela pensa, do que ficar com alguém que não te enxerga como você é. É melhor liderar do que seguir. É melhor falar do que ficar em silêncio. É melhor abrir portas do que fechá-las na cara das pessoas.” – Página 335.

“Ela não será simples e doce. Ela não será o que as pessoas dizem que ela deve ser. Aquela princesinha está morta.” – Página 335.

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