Amor, Somente Amor (Márcio Muniz)

Até que ponto uma sociedade profundamente enraizada em preconceito e desigualdades sociais pode interferir no amor de dois jovens apaixonados? Será que o amor verdadeiro é realmente capaz de superar e vencer todos os obstáculos?

Gênero: Romance
Páginas: 140
Editora: Drago Editorial

Classificação: 🌙🌙🌙🌙/5

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SINOPSE

Que chances um garoto pobre, negro, morador de uma comunidade do Rio de Janeiro, teria com uma bela menina rica, branca, frequentadora da alta-sociedade carioca?
Teoricamente, nenhuma!
Pior… para Breno, não bastará apenas conquistá-la, terá que lutar contra o preconceito imposto por todos… principalmente, pelo próprio pai dela! Seu Levi é um homem autoritário, extremamente preconceituoso e arrogante, jamais permitirá que sua filha venha a namorar um “favelado”.
Mas Breno encontrará em Lucas – um playboyzinho que mora no mesmo condomínio de Sabrina e que frequenta a mesma comunidade de Breno em busca de saciar seu vício – um forte aliado. Será com sua ajuda e companheirismo que ele tentará romper com todas as barreiras impostas por nossa sociedade e conquistar o coração de Sabrina.

Amor, Somente Amor é, primeiramente, uma história sobre amor e preconceito.

Breno é um adolescente negro e pobre de dezessete anos. Nascido e crescido numa favela do Rio de Janeiro, ele acaba tendo que ir morar com os tios num barraco também do morro depois que seu pai, um alcoólatra incontrolável, morre numa batida de carro. A mãe do garoto, tentando suprir a ausência do homem, começa a trabalhar como doméstica; mas o fantasma do dinheiro fácil surge e ela por fim se rende e passa a traficar e consumir cocaína, tendo sido presa algumas vezes e se prostituído. Mas essa mudança não fora totalmente aceita pelo tio de Breno, que o despreza, por isso, o garoto sai de casa todo dia antes do sol raiar e volta somente na hora de dormir.

Contudo, Breno não se rende às mazelas da comunidade e todo dia trabalha honestamente para conseguir algum trocado, seja vendendo coisas no trem, carregando sacolas do supermercado ou prestando favores em sinais. Ele definitivamente encanta e surpreende por seu caráter, honestidade, simplicidade e bondade. Breno é como a minha flor preferida (Flor de Lótus): uma flor que nasce em meio ao esgoto. Em péssimas condições de vida.

Já a realidade de Sabrina é absolutamente diferente: oriunda de família rica, frequentadora da alta sociedade Carioca, ela mora num condomínio luxuoso com o seu pai, Sr. Levi. A mãe dela morrera logo após o nascimento da menina. A criação de Sabrina ficou por conta de Seu Levi, um homem cheio de soberba, preceitos e preconceitos, mesquinho e que controla e esquematiza todos os passos da filha. Mas Sabrina já estava cansada de sua vida monótona e pacata; Casa. Escola. Cursos. Eventos sociais onde tinha a obrigação de acompanhar o pai. E só. Ela era como um fantoche nas mãos do pai, uma garota de quinze anos criada para obedecer e nada reclamar. Afinal, ela não já tinha tudo do bom e do melhor?

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O que os dois jovens não esperavam era que suas vidas mudariam para sempre depois de um quase acidente de trânsito.

Breno voltava distraidamente depois de mais um duro dia de trampo, contando os trocados junto com seu amigo de trabalho chamado Pequeno. Ao atravessar a rua sem prestar a mínima atenção, um carro luxuoso e importado teria batido nele, se o seu amigo não o tivesse empurrado para trás, resultando apenas num esbarrão. Mas esse quase esbarrão foi o suficiente para que ele notasse um par de olhos azuis por trás do vidro parcialmente fechado; uma garota dona de um ímpar olhar, tal olhar que fez com que ele corresse desesperadamente atrás do carro e descobrisse onde morava a dona dele. Sabrina residia na “outra parte” do Rio de Janeiro.

“Por trás daquele vidro fumê e espelhado, por aquele espaço mínimo de uns vinte centímetros, ele pôde contemplá-la… apreciar um doce e eterno olhar, tão azul e vívido quanto o céu do Rio de Janeiro. Foi mesmo por um pequeno e único instante, mas a cena parecia transcorrer em câmera lenta. Breno ficara ainda mais estático do que quando quase fora atropelado. As palavras pareciam sumir, junto com sua voz… junto com qualquer reação que ele pudesse ter naquele sublime instante.”

– Pág. 14

Esse detalhe das duas distintas “metades” do Rio de Janeiro ficou evidente na capa e eu achei bastante interessante. Ela não é completamente ilustrativa e diz muito sobre a história. Aliás, o fato de a história se passar no Brasil também é mais um fator importante. Trata-se de reconhecer e validar sua própria cultura.

Por intermédio de Lucas, um playboyzinho rico que mora no mesmo condomínio de Sabrina mas frequenta a favela procurando alimentar seu vício por cocaína, os dois adolescentes começam a manter encontros secretos que logo resultariam num namoro cheio de altos e baixos e numa paixão arrebatadora.

O amor de Breno e Sabrina era grande, mas suas dificuldades e obstáculos tinham igual – ou maior – proporção. Seu Levi jamais aceitaria um genro “favelado”, pois aos olhos dele Breno não estaria à altura de Sabrina, tendo nada a lhe oferecer, além de ser um “moleque inconsequente como todos os demais do morro”. Os encontros iam ficando cada vez mais difíceis e arriscados. A desconfiança do pai aumentava. Os amigos de Sabrina zombavam dela. Até que um dia, uma garota invejosa da classe da menina armou para cima dela e o pai descobriu tudo.

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Além do autor abordar sutil e genialmente de questões como primeiro amor, preconceito, racismo, desigualdades sociais, drogas e realidades de inúmeras favelas, ele também retrata outro aspecto: a importância da amizade e do apoio familiar. O casal encontra em Lucas, que inicialmente se aproximara de Breno por interesse, um forte companheiro e aliado. Assim como Breno conseguirá reunir Lucas e o pai, mostrando que a presença paterna é essencial na vida dos filhos, e que não é só porque eles têm dinheiro que isto deixa Lucas longe do mundo das drogas e dependências químicas.

Amor, Somente Amor é uma leitura curta e agradável, que aborda temas importantíssimos e questiona e critica a realidade de tantos jovens por aí. Quantos Brenos, que vivem em meio à violência e tráfico livre não existem nas favelas mundo afora? Quantos Lucas não se deixam afundar por problemas familiares? Quantas Sabrinas não são limitadas por pais rígidos e controladores? Nada mais que o retrato de uma sociedade profundamente doente. E o pior: essa sociedade é a contemporânea.

A escrita do Márcio Muniz muito me agradou e encantou. Romântico nato, há um “quê” de poesia e metáfora em muitas de suas frases, além de saber o momento certo de dar reviravoltas na história e de criar personagens bem construídos. Da metade para o final, o romance se torna eletrizante.

No entanto, não posso deixar de dizer que duas coisas me incomodaram na obra:

1. A edição. Este foi o meu primeiro contato com a Drago Editorial, e posso dizer que a editora decepcionou na edição.

2. Clichês. Como muitos romances, a história tem alguns clichês evidentes, ainda mais por se tratar de um primeiro amor. Em alguns momentos, acredito que o autor tenha exagerado na dose de amor à primeira vista e nas declarações em excesso, tornando-o um pouco… Inverossímil.

Ademais, é uma obra que certamente recomendo, repleta de lições e que pode ser lida por todas as idades!

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* O livro nos foi concedido em parceria com o autor.

 

2 comentários sobre “Amor, Somente Amor (Márcio Muniz)

  1. Olá, ficou muito boa a resenha. Fico muito feliz que em linhas gerais o livro a tenha agradado e que a mensagem que quis passar conseguiu ser captada. Quanto a questão da edição do livro, de fato esta primeira edição deixou um pouco a desejar, mas foi melhorada na segunda edição que acaba de sair. Parabéns pelo blog e muito obrigado pelo espaço.

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